O termo “arritmia” refere-se a qualquer alteração na sequência normal dos impulsos elétricos cardíacos. Algumas arritmias são tão curtas (por exemplo uma pausa ou extra-sístole) que a frequência cardíaca global não é significativamente alterada. Se forem mais prolongadas poderão causar um aumento (taquicardia) ou uma diminuição (bradicardia) sustentada da frequência cardíaca e acompanharem-se de sintomas como palpitações, tonturas, cansaço, mal-estar torácico ou mesmo perda de consciência.

As bradiarritmias patológicas são mais frequentes em idades mais avançadas, já que o sistema elétrico do coração também envelhece e a doença do tecido de condução pode manifestar-se por bloqueios da condução que em alguns casos poderão ter indicação para a implantação de um pacemaker cardíaco.

Em pessoas sem patologia cardíaca, as taquicardias supraventriculares e as extra-sistoles são o achado mais frequente. São condições geralmente associadas a um bom prognóstico, mas que podem interferir significativamente na qualidade de vida. Para um correto diagnóstico destas arritmias a realização de um electrocardiograma no momento da crise é fundamental, mas dado o caráter intermitente destas arritmias, uma monitorização electrocardiográfica prolongada (através do recurso a exames como o Holter de 24h ou o registador de eventos implantado) poderá ser necessária. O tratamento pode passar pela apenas pela tranquilização da pessoa, pela prescrição de medicação ou por um tratamento definitivo através da realização de um estudo electrofisiológico e ablação cardíaca (tratamento invasivo).

Muito frequente na prática clínica é o diagnóstico de fibrilhação auricular (FA). A sua prevalência aumenta com a idade e com fatores de risco como a hipertensão arterial, a diabetes, a apneia do sono ou o excesso de peso. Na população portuguesa com > 40 anos a prevalência de FA é de 2.5% (chegando mesmo aos 9% na população com >65 anos). Esta é uma arritmia em que estímulos elétricos caóticos nas aurículas inibem a função mecânica destas câmaras cardíacas predispondo à estagnação de sangue e eventualmente à formação de coágulos. A FA é responsável por 15% dos AVCs, pelo que a sua prevenção é uma pedra basilar no tratamento desta arritmia (através da hipocoagulação oral). Em relação ao ritmo cardíaco, se se optar pela tentaiva de reversão a ritmo sinusal, poderá recorrer-se a medicação, cardioversão eléctrica ou ao estudo electrofisiológico e ablação (isolamento das veias pulmonares).

Por fim, menciono as arritmias ventriculares, que são as que em geral se associam a pior prognóstico. Na verdade, o maior determinante de risco numa arritmia é a presença de doença cardíaca estrutural (por exemplo enfarte do miocárdio ou insuficiência cardíaca). Nestes casos, uma arritmia ventricular pode ter consequências gravíssimas e a sua prevenção pode passar pela implantação de cardioversores-desfibrilhadores em casos selecionados. 

Drª. Ana Lebreiro - Cardiologista


Bibliografia

Bonhorst D, Mendes M, Adragão P. Prevalence of atrial fibrillation in the Portuguese population aged 40 and over: the Fama study. Rev Port Cardiol. 2010; 29: 331-350.

Pedro Monteiro, em nome dos investigadores do estudo Safira. Estudo Safira: reflexões sobre a prevalência e os padrões de tratamento de fibrilhação auricular e risco cardiovascular em 7500 indivíduos com 65 ou mais anos. Rev Port Cardiol 2018;37(4): 279-362

http://www.heartrhythmalliance.org/aa/pt

https://www.afibmatters.org/pt_PT/

http://www.fpcardiologia.pt/fibrilhacao-auricular/